“Acabou-se a história e morreu a vitória. Não havia mais ninguém lá. Dera tangolom ângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares aqueles campos furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era a solidão do deserto.
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Então o homem descobriu na ramaria um papagaio verde de bico doirado espiando pra ele. Falou: – Dá o pé, papagaio. O papagaio veio pousar na cabeça do homem e os dois se acompanheiraram. Então o pássaro principiou falando numa fala mansa, muito nova, muito! que era canto e que era cachiri com mel-de-pau, que era boa e possuía a traição das frutas desconhecidas do mato.
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A tribo se acabara, a família virara sombras, a maloca ruíra minada pelas saúvas e Macunaíma subira pro céu, porém ficara o aruaí do séquito daqueles tempos de dantes em que o herói fora o grande Macunaíma imperador. E só o papagaio no silêncio do Uraricoera preservava do esquecimento os casos e a fala desaparecida. Só o papagaio conservava no silêncio as frases e feitos do herói.
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Tudo ele contou pro homem e depois abriu asa rumo de Lisboa. E o homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra vos contar a história.” (ANDRADE, M. Macunaíma, 1928; excerpt do epílogo)
É 22 E UMA SEMENTE CHAMADA BRASIL irrompe num broto de reesperançar...temos a missão, enquanto inventores da ciência brasileira, de fertilizar esse Brasil que (re)nasce ao crepitar do tempo que se cumpre escrever do agora à frente. O Brasil de nossa ciência é verde, a margem, e d’ouro, o sumo. Nossa missão é fazê-lo, da semente, um gigante. Não importa quantas vezes sejamos instados a viver, e contar, esta história. Brasileiros como Pinguelli Rosa, que trazemos à celebração de nossa história no encontro deste ano, carregaram e viveram, ao longo de suas caminhadas, essa missão.
O HCTE é, mesmo para a cultura brasileira tão afeita ao plural, uma referência de inter/transdisciplinaridade. Demonstrando a indissociabilidade entre os aspectos teórico e experimental da ciência, representada em todos os campos - das ciências da vida às humanas, das artes às ciências matemáticas, das ciências naturais às exatas, o HCTE celebra o centenário da Semana de 22, por uma semente chamada Brasil, por um Brasil desdobrado em sementes da ciência crescida das raízes mais profundas de nossa identidade, nossa diversidade, nossas singularidades. Por um 22 de nascimentos. De novo.