Revista Scientiarum Historia

As ideias de Jean Piaget nos jornais brasileiros dos anos 1920

André Elias Morelli Ribeiro — 2025-06-01

O psicólogo e epistemólogo suíço Jean Piaget tem um papel fundamental na constituição da psicologia brasileira, sendo influente também na educação nacional. Contudo, são poucos os estudos sobre a chegada e circulação de suas ideias no país. O presente estudo busca apresentar a discutir a presença do pensamento piagetiano nos jornais brasileiros dos anos 1920. Para isto, utiliza como fonte histórica o material disponível na Hemeroteca Digital Brasileira. Foram localizados nove textos com menções a Piaget entre 1925 e 1929 feitas por jornalistas, educadores, médicos e psicólogos. Os dados mostram que os anos 1920 foram o período do início da apropriação de Piaget por parte de pensadores e intelectuais brasileiros, que o mencionam de forma marginal. Os jornalistas apenas registram sua presença em um evento e uma biblioteca; os educadores o mencionam junto à figura proeminente de Claparède; e os médicos se apropriam de suas ideias para defender teses relativas à criança. A exceção é Sylvio Rabello, que mostra um bom conhecimento sobre o psicólogo suíço e debate suas ideias com mais profundidade. O processo de indigenização e a criação dos centros brasileiros de discussão de Piaget deve começar efetivamente em décadas seguintes, sendo os anos 1920 ainda um momento de primeiras aproximações.

Piquenique antropofágico:

Lucia Helena Ramos de Souza — 2025-04-06

A partir da leitura do livro A queda do céu, escrito por um xamã yanomami, propor um breve olhar sobre um conhecimento ancestral, antropofágico, pautado no sagrado, no comum e no poético. Que pode ser entendido como uma epistemologia antropofágica ou o conhecimento a partir do outro, do diverso, ou, como um lugar de encontro: um piquenique antropofágico - já que o tema remete ao ato de comer. Mas que dado as urgências do mundo: conflitos, polarizações, guerras e crise climática, também urgente será pensar e observar, ou “comer”, se alimentar com, outras formas de ser e estar no mundo. Uma forma em que nem tudo seja produto ou mercadoria, fruto de exploração e acumulação, para satisfazer algum mercado, para obter lucro para poucos. Enfim, que ossos tenham mais valor que ouro.

La modernidad de la idea de cultura en el Brasil modernista

Matheus Fernandes Manhães — 2025-06-29

El artículo analiza, apoyándose en la controversia entre Gilberto Freyre y Oliveira Viana, la historia de la incorporación del concepto de "cultura" en Brasil. Argumentamos que su hegemonización, que data del comienzo del siglo XX, respondió a las contradicciones planteadas por la formación del Estado brasileño y por la modernización capitalista tardía del país. En ese contexto, el concepto de cultura comenzó a ganar relevancia a partir de referencias en la tradición intelectual alemana, reemplazando en cierta medida al de "civilización" como clave para comprender la dinámica social brasileña. En este proceso, Freyre desempeñó un papel decisivo: articuló la idea de cultura con la cuestión racial, diferenciándola de sus orígenes europeos y consolidando su centralidad en el debate público brasileño.

Uma releitura de Sadi Carnot no ano do bicentenário da Termodinâmica

Agamenon R.E. Oliveira — 2025-06-01

Sadi Carnot ingressou na Escola Politécnica de Paris muito jovem. Tendo nascido em 1796, em 1812 ingressou naquela conceituada instituição de ensino. Como engenheiro militar, acompanhou algumas ações do exército francês, mas foi o período de paz após Waterloo que proporcionou o desenvolvimento de seu talento para as disciplinas de engenharia. Estudou principalmente física e economia, passando grande parte do seu tempo visitando indústrias e estudando organização industrial e economia, tendo-se tornado um especialista em questões comerciais e industriais em vários países europeus. O produto mais acabado de seus estudos foi a publicação, em 1824, de um pequeno livro, de 118 páginas, intitulado: Réflexions sur la puissance mortice du feu. A referida obra de Carnot, inaugurando a ciência da termodinâmica, lança as bases e fundamentos filosóficos para a mudança de vários paradigmas já estabelecidos nas ciências do século XIX. A termodinâmica apresenta-se imediatamente como uma nova teoria das máquinas, fornecendo uma solução e ampliando os limites impostos pela teoria newtoniana para explicar as máquinas, devido à degradação da energia. Neste trabalho faremos uma leitura de alguns trechos selecionados de sua obra máxima ressaltando a importancia do estudo das máquinas térmicas para o desenvolvimento industrial.

Percepção de imagens no videogame e cinema:

Thiago Ladislau — 2025-04-09

Propomos uma abordagem transdisciplinar para analisar imagens em videogames, visando estabelecer bases teóricas sólidas e explorar a viabilidade de enquadrar videogames em um contexto neurofenomenológico, alinhado com sua fenomenologia histórica. Abordamos a negligência na neurociência em relação aos processos fenomenológicos na percepção de imagens em videogames, e destacamos a subestimação das qualidades atrativas e de consumo dessas imagens em gerações passadas. Defendemos que a diversidade nas qualidades das imagens em videogames ao longo das décadas não pode ser atribuída apenas à evolução técnica. Consideramos estudos em Game Studies para ressaltar as características únicas da experiência de jogo com essas imagens, além de argumentar que a interatividade imediata não deve ser o único foco na análise neurocientífica. Inspirados pela neurofenomenologia do cinema de Vittorio Gallese e Michele Guerra, concluímos que uma análise comparativa entre cinema e videogames sob uma perspectiva neurofenomenológica enriquece a compreensão das imagens nos videogames e destaca sua complexidade multimodal, desdobrando assim novas possibilidades nesse campo.

Descrições autoetnográficas na performance:

Luciane Moreau Coccaro — 2025-04-09

A proposta do artigo é descrever o programa performativo utilizado na criação da performance de dança Dura o tempo de um cigarro! E Salomé dançou! Por meio de descrição autoetnográfica, o texto inicia apresentando Salomé como um comportamento duplamente vivido e restaurado a partir dos rastros dela em minha trajetória de bailarina. A questão teórica apresenta Salomé como entidade, sob abordagem antropológica do perspectivismo ameríndio de Viveiros de Castro (2004); e também como um modo de existência meu em desenho e canto (SOURIAU, 2021). A escrita autoetnográfica mostra aspectos metodológicos da pesquisa que gerou a performance inspirada em Salomé, no sentido de apontar referências na arte e na ciência.

Uma fenomenologia da corporeidade:

Mônica Clemente — 2025-04-09

Este artigo tem como proposta apresentar a Prática Integrativa e Complementar em Saúde (PICS) das Constelações Familiares, uma abordagem fenomenológica alinhada à fenomenologia de Merleau-Ponty, como um caminho epistemológico para a análise das cartas de Antonin Artaud escritas no sanatório de Rodez, particularmente no que diz respeito ao itinerário intelectual ocidental que cindiu o corpo e a mente transformando os inumeráveis estados de ser em doenças mentais. O objetivo é demonstrar como essa PICS, ao tomar o corpo como sujeito da experiência, revela dimensões do irracional, inconsciente, onírica e primitiva como modalidades do ser. Por esse motivo, essa prática é uma via significativa para a superação do dualismo mente-corpo e para a análise de contextos de intersubjetividade que se manifestam no corpo.

O céu, depois do James Webb ou O espaço cosmológico em quatro chaves

Italo Bruno Alves — 2025-05-01

Este artigo reage a uma particularidade ainda pouco problematizada na condição contemporânea das artes visuais: o seu desenvolvimento no campo universitário, ampliado nas últimas décadas por formação stricto sensu, sem contudo interagir de forma ampliada com o potencial do campo privilegiado para interdisciplinaridade que se deposita nas universidades. Assim, este artigo pretende se apontar para uma possível produção de conhecimento visual a partir da observação do céu, em quatro modos distintos, em suas epistemologias, ao longo de milênios e, particularmente, na profunda ampliação do que chamamos de céu, a partir do lançamento do telescópio espacial James Webb. O que levamos daqui junto com o James Webb e, mais, o que do nosso passado e nossa visualidade históricos nos ajuda a lidar com a chuva de imagens que acessamos por meio de suas lentes.