O trabalho nos contextos asilar e pós asilar e suas reverberações na saúde (doença ou transtorno) mental

  • Fernando Machado Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro
  • Arthur Arruda Leal Ferreira Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro https://orcid.org/0000-0002-2059-8877
  • Daniele Gomes da Silva Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro https://orcid.org/0000-0002-4949-0237
Palavras-chave: Trabalho e Saúde Mental. História dos Asilos para Alienados. Regime disciplinar e governamentalidade.

Resumo

ste texto pretende primeiramente refletir acerca dos sentidos do trabalho através das praxiterapia, tal como se deu no contexto dos asilos de média e longa permanência representados na figura das Colônias. Nossa fonte de análise histórica serão as Colônias e os Hospícios, bem como a produção teórica do campo psiquiátrico. Um fio de continuidade conduz a compreensão que entende o trabalho como operador terapêutico de ressocialização (concepção nascida a partir das reflexões em torno das Colônias) ao pensamento contemporâneo de que a saúde mental do indivíduo depende de uma boa relação com o fazer representado pelo trabalho. Para isso, exploraremos em um primeiro momento o material que emerge da pesquisa documental e historiográfica do acervo dos Asilos mentais para, na sequência, partimos para uma problematização de questões do presente que carregam pontos de tensionamento entre trabalho e saúde mental em um período marcado pela hegemonia do pensamento pós asilar cujos modos de promoção de saúde passam por estratégias de autogestão fomentadas pela autonomia individual. A análise crítica do passado se utilizará do método genealógico foucaultiano, bem como de metodologias inspiradas na produção de autores da “Nova História”. Já a abordagem da contemporaneidade pretende se ver alavancada pelas pesquisas da governamentalidade aplicadas ao campo dos determinantes sociais em saúde mental (ditados por organismos reguladores internacionalmente reconhecidos e presentes na bibliografia encontrada acerca do tema) que contribuem para a compreensão de algumas formas de exercício de poder nas sociedades demarcadas por práticas neoliberais.

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Biografia do Autor

Fernando Machado, Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutor em História das Ciências, das Técnicas e Epistemologia pela UFRJ, com formação em Psicologia e experiência em pesquisa e atuação nas áreas de História da Psicologia, Saúde Mental e Filosofia.  

Arthur Arruda Leal Ferreira, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Professor Titular da UFRJ, com doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP e pós-doutorados em História da Psicologia (UNED) e Produção de Subjetividade (Javeriana), atua nos campos da Epistemologia, História da Psicologia e Estudos CTS.  

Daniele Gomes da Silva, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutora em Educação pela UFRJ, atua como docente de Filosofia na SEEDUC-RJ, com experiência em ensino, extensão e pesquisa nos campos da Filosofia da Educação, Formação Docente e Metodologias de Ensino.  

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Publicado
2025-10-25
Como Citar
Machado, F., Ferreira, A. A. L., & da Silva, D. G. (2025). O trabalho nos contextos asilar e pós asilar e suas reverberações na saúde (doença ou transtorno) mental. Revista Scientiarum Historia, 1(1), e496. https://doi.org/10.51919/revista_sh.v1i1.496
Seção
Ciência, Tecnologia e Sociedade