O trabalho nos contextos asilar e pós asilar e suas reverberações na saúde (doença ou transtorno) mental
Resumo
ste texto pretende primeiramente refletir acerca dos sentidos do trabalho através das praxiterapia, tal como se deu no contexto dos asilos de média e longa permanência representados na figura das Colônias. Nossa fonte de análise histórica serão as Colônias e os Hospícios, bem como a produção teórica do campo psiquiátrico. Um fio de continuidade conduz a compreensão que entende o trabalho como operador terapêutico de ressocialização (concepção nascida a partir das reflexões em torno das Colônias) ao pensamento contemporâneo de que a saúde mental do indivíduo depende de uma boa relação com o fazer representado pelo trabalho. Para isso, exploraremos em um primeiro momento o material que emerge da pesquisa documental e historiográfica do acervo dos Asilos mentais para, na sequência, partimos para uma problematização de questões do presente que carregam pontos de tensionamento entre trabalho e saúde mental em um período marcado pela hegemonia do pensamento pós asilar cujos modos de promoção de saúde passam por estratégias de autogestão fomentadas pela autonomia individual. A análise crítica do passado se utilizará do método genealógico foucaultiano, bem como de metodologias inspiradas na produção de autores da “Nova História”. Já a abordagem da contemporaneidade pretende se ver alavancada pelas pesquisas da governamentalidade aplicadas ao campo dos determinantes sociais em saúde mental (ditados por organismos reguladores internacionalmente reconhecidos e presentes na bibliografia encontrada acerca do tema) que contribuem para a compreensão de algumas formas de exercício de poder nas sociedades demarcadas por práticas neoliberais.
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Referências
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